terça-feira, 2 de março de 2010

MV Bill: 'Com respeito, a polícia está mudando'

Por Juliano Costa, Redação Yahoo! Brasil

O rapper MV Bill, que sempre soube retratar como poucos a realidade das comunidades menos favorecidas do Rio, tanto em seus discos como no documentário "Falcão - Meninos do Tráfico", vê com bons olhos o trabalho das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).
Morador de Cidade de Deus, ele sente que os novos policiais estão mais abertos ao diálogo. "Está claro agora que é mentira que as comunidades eram contra a polícia. Nós éramos contra os métodos utilizados, de pé na porta e invasão de domicílio sem mandado. Vejo que esses novos policias sabem respeitar os moradores e, por isso, estão sendo também respeitados."

  • Conheça as UPPs




  • Confira a entrevista de MV Bill ao Yahoo!:

    Como morador da Cidade de Deus, como tem visto o trabalho das UPPs?
    O tempo ainda é curto para se fazer uma análise mais profunda, mas os primeiros resultados são bem positivos. O mais legal é ver que o policial da UPP sabe distinguir o que é morador e o que é um transgressor da lei. Antes havia uma generalização: "É preto, é pobre, é favelado? Então é bandido." Agora não. Por ficarem permanentemente na comunidade, eles passam a conhecer e a serem conhecidos pelas pessoas.

    A grande maioria desses policiais é recém-formada e com especialização em policiamento comunitário. O segredo está nessa nova formação?
    Acho que sim. São todos muito jovens, e a maioria tem história de vida parecida com a nossa. São policiais familiarizados com a cultura hip-hop, ouvem funk, tomam uma cervejinha com os amigos no final de semana. É gente como a gente, mas de farda. Na prática dá certo porque há o respeito dos dois lados.

    Você tem contato com esses policiais?
    Sim, e vejo todos abertos ao diálogo. Um dia (moradores) vieram reclamar comigo de um policial que estava na passarela de entrada da Cidade de Deus com fuzil na mão, revistando todos que passavam de forma mais rude. Fui lá falar com ele e percebi que, na verdade, ele estava era muito espantado. Ele era muito, muito jovem. Conversamos e ele pediu desculpas, disse que não queria desrespeitar ninguém. Achei legal isso, justamente por mostrar que todos, mesmo os menos preparados, estão abertos ao diálogo.
    Como representante da Cidade de Deus, e artista conhecido e admirado, você é muito procurado pelos moradores, não? Mas e com as autoridades? Mantém contato?
    Sim, sim, Tive uma boa conversa com o Beltrame (José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro) uma vez. Fui levar uma reclamação de um policial corrupto e ele prometeu abrir uma investigação. E assim foi feito. Vi ali que é um cara bem intencionado, com boas ideias. Aquilo ali e uma entrevista que vi dele fizeram com que eu mudasse a visão sobre as UPPs, logo no começo. Na entrevista ele disse que a polícia não poderia ser o único braço governamental dentro da favela e que era preciso que entrassem também as Secretarias de Educação, de Cultura, de Esporte e Lazer... poxa, para um cara da Segurança Pública admitir isso, é difícil. Espero que isso aconteça com mais intensidade - que tenhamos mais educação, cultura, esporte e lazer na favela.

    Os índices de aprovação ao trabalho das UPPs são espantosos: chegam a 93%. Isso chama a atenção, já que a polícia andava com uma imagem ruim nas comunidades mais pobres do Rio, não?
    Pois é, a gente passou a vida inteira sendo mal tratado, sendo vítima de preconceito. Mas a imagem dos policiais mudou quase instantaneamente quando passaram a respeitar as pessoas. Está claro agora que é mentira que as comunidades eram contra a polícia. Nós éramos contra os métodos utilizados, de pé na porta e invasão de domicílio sem mandado. E outra coisa, que precisa ser dita: os policiais são muito mal pagos. Outro dia li que os brigadeiristas de Porto Alegre recebem R$ 700 por mês. Isso é um absurdo. Deviam receber pelo menos R$ 5 mil, sabe por quê? Porque o policial arrisca a vida, dele e dos outros. Ele é a lei e a lei vale muito. Mas no nosso país, infelizmente, um segurança de carro blindado, que cuida do transporte de valores, ganha muito mais que um policial, que cuida do que há de mais valioso no mundo - a vida.

    Mas você acha que a UPP veio pra ficar ou há o risco de o projeto ser esquecido no futuro, numa eventual mudança de governo?
    Eu torço para que continue, mas nunca se sabe, né? De qualquer forma, como falei, ainda é cedo para fazermos uma avaliação definitiva. O começo está sendo bom e isso é importante. Uma coisa que me preocupa é que, uma vez instalada a UPP, muitos traficantes acabam migrando para outras áreas - e aí a criminalidade cresce em outro lugar. É preciso ficar atento também ao fato de que os crimes acabam mudando. Se eliminam o tráfico de drogas aqui, o cara ali pode começar a roubar, sequestrar. É um trabalho de vigilância permanente.

    A ação da Polícia é um tema recorrente na obra de MV Bill. Veja o vídeo abaixo:



    MV Bill lança em março seu novo disco, "Causa e Efeito". O lançamento será no dia 1º. de abril, no Ebano Bar, em São Paulo. Para saber mais sobre o rapper, acesse

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