terça-feira, 30 de novembro de 2010

Governo estuda desonerações para banda larga custar R$ 15

O governo federal está trabalhando na desoneração de impostos como PIS e Cofins para aparelhos de modems e na concessão de incentivos fiscais para baratear o acesso aos serviços de internet em alta velocidade no país. As ações foram apresentadas hoje (30), durante a terceira edição do Fórum Brasil Conectado.

De acordo com Arthur Coimbra, membro do Comitê Gestor do Programa de Inclusão Digital (CGPID), a desoneração de impostos para os modems, proposta conhecida como “Modem para Todos”, já foi aprovada pelo Ministério da Fazenda, e aguarda apenas a normatização. Já a formulação de um plano de incentivos fiscais federais e estaduais para possibilitar o acesso aos serviços de banda larga por cerca de R$ 15 já foi aprovada em reunião ministerial, mas ainda falta ser autorizada pelo Ministério da Fazenda.

Também estão sendo trabalhadas medidas para facilitar a atuação de micro e pequenas empresas prestadoras de serviço de acesso em banda larga, como o financiamento público e a desoneração de contribuições como Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) e o Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel).

Coimbra destacou que é preciso também discutir, no âmbito da reforma tributária, os impostos que incidem sobre serviços de telecomunicações no Brasil, que, segundo ele, estão muito acima das médias internacionais.

Outra ação necessária, segundo ele, é a liberação da faixa de frequência de 450 mega-hertz (MHz) para levar a banda larga para áreas rurais e escolas públicas. De acordo com Coimbra, essa faixa atualmente é utilizada pela Polícia Federal e algumas polícias estaduais. A migração deve levar de oito meses a dois anos, a um custo de US$ 40 milhões.

Na abertura do encontro, o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Ronaldo Sardenberg, disse que o conselho diretor da agência deve ter uma definição sobre a destinação da faixa de 450 MHz na próxima semana e, até o fim do ano, sobre o Plano Geral de Metas de Universalização da telefonia fixa (PGMU 3). “Nossa meta é cumprir todos os os prazos previstos e oferecer ao Brasil um marco regulamentar tecnicamente consistente estável e duradouro.” Ele disse que espera iniciar 2011 com 50% das matérias relacionadas ao Plano Nacional de Banda Larga concluídas ou bem encaminhadas na Anatel.

O secretário especial da Presidência da República, Cezar Alvarez, avaliou que houve avanços na área de regulamentação das questões envolvendo o Plano Nacional de Banda Larga. Segundo ele, até o fim do ano, a versão final do PGMU 3 será encaminhado para aprovação final do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Fórum Brasil Conectado é um comitê formado por representantes de estados e municípios, do Legislativo, de operadoras, de fabricantes de equipamentos, de desenvolvedores de software, de produtores de conteúdo digital, de entidades de representação dos usuários e da sociedade civil. O objetivo do grupo é debater a implantação do Plano Nacional de Banda Larga no país, que pretende oferecer internet rápida a preços baixos.

Fonte: OndaVermelha - #dilmanarede

Três propostas para o caos no Rio de Janeiro

-- Policiais no alto do Complexo do Alemão (foto:EFE) --

por Bruno Cava – Quinta passada, dia 25, eu estava num barzinho depois do expediente, quando vi pela primeira vez a filmagem da fuga desabalada de moradores do morro, que corriam por uma estradinha de terra batida entre duas favelas aqui do Rio. Tentavam escapar da favela Vila Cruzeiro, que estava sendo invadida pelas forças do estado. Durante a correria, era possível ver várias pessoas sendo alvejadas por policiais de tocaia na mata (ou em helicópteros). E ninguém ajudava, elas ficavam pra trás, desamparadas e agonizantes.

Achei triste a cena, mas as pessoas a meu redor exultavam: “bandido tem mais é que morrer”, “BOPE neles!”, “tem que botar o exército pra acabar com esses vagabundos”. Nem no atentado de 11 de setembro nos EUA, presenciei tamanho deleite da maioria diante de cenas de execução. Os espectadores chegavam a salivar. Reviravam os olhinhos. Uma catarse.

Natural que crises assim provoquem um clima de euforia pela cidade. Admito que parte de mim também se empolga em tempos de comoção. Afinal, arranca-nos da rotina e confere vibração à existência. Porém, não dá pra engolir a execução sumária televisionada ao vivo e em cores e aplaudida como se fosse uma cena do filme Tropa de Elite.

Eu sei que pedir um olhar crítico da televisão brasileira seria sonhar alto demais. Mas irritam os programas que sequer informam sobre o que está acontecendo. Tipo, pelo menos descrever os fatos. Limitam-se a exibir as cenas sob manchetes inflamadas, com direito a rostos consternados de âncoras e repórteres. A situação fica posta nos termos maniqueístas mais ignorantes, como se fosse uma guerra do bem contra o mal, do estado bonzinho versus os bandidos maus, do cidadão de bem reagindo ao traficante do mal.

O jornalismo brasileiro dos principais veículos tem que acabar. Prevalece a exaltação à violência do bem contra a barbárie do mal. Repete-se o discurso do medo e da guerra, o fundamento de toda a tirania. Moraliza-se um debate que é político. Ora, a violência urbana não é causada pela maldade na cabeça de algumas pessoas, mas por fatores sociais, econômicos, históricos, que condicionam as relações de poder e produzem a violência na metrópole.

Esse discurso midiático rasteiro, reproduzido acriticamente por tantos em suas micromídias (rodinhas, tuíter, facebook), pretende unificar a sociedade numa cruzada do bem contra um inimigo comum. Porém acerta gigantes imaginários. Porque não existe nenhuma relação de causa e conseqüência entre a) invadir uma favela e “passar o rodo nos soldados do tráfico” e b) assegurar a segurança aos cidadãos do asfalto. Não preciso me delongar nisso, porque o Luiz Eduardo Soares escreveu com pena de ouro sobre o pastiche midiático na questão da violência urbana, em texto de quarta passada (dia 24) no seu blogue.

No boteco, sem agüentar mais, me senti novamente obrigado a discordar do que todos já tinham se posto em acordo. Se não for pra isso, então não sirvo pra nada.

Como assim, tocaiar as pessoas fugindo? Isso não é pra aplaudir, mas pra vaiar. Uma coisa é responder fogo com fogo, reagir num tiroteio pra se salvar. Outra é tocaiar um grupo se retirando do campo de batalha em desespero. Os caras não foram mortos, eles foram e-xe-cu-ta-dos. Reparem que os atingidos nem carregavam fuzis. Poderiam nem ser “bandidos”, mas moradores tomados de pânico, diante da invasão dos caveiras.

O coro reagiu: ah, Bruno, nem vem, todo mundo sabe que eram da facção ou pelo menos estão envolvidos de alguma forma.

Ora, poderiam não ser bandidos, não poderiam? Em tese, poderiam não ser. E isso basta, a dúvida. Um inocente executado ali não vale a prisão de todos os culpados. Aliás, e se fossem “bandidos”? Tem bandido e bandido. Tem o chefão mandante de 50 homicídios e tem o aviãozinho de 14 anos que entrega a trouxinha. E, ainda que, hipoteticamente, sejam todos eles sem exceção assassinos sanguinários zé-pequenos que-nem-no-Tropa-de-Elite? (O que é bem diferente do que estar somente “envolvido de alguma forma”.) Mesmo assim, não há pena de morte no Brasil. E, mesmo que houvesse, não seria permitida a execução sumária — sem acusação, defesa, julgamento e apelação.

Pergunto: até onde isso não é praxe em operações assim? Invade a favela, mata-se, e depois sai na imprensa que “morreram X moradores da favela supostamente envolvidos com o tráfico”. E ponto final. A única legitimidade do estado para invadir, prender e punir reside em sua invocada superioridade moral, em relação aos criminosos. Por isso, se agentes do estado abusam, sem respeitar garantias básicas, sem seguir o devido processo legal, qualquer que seja o pretexto, deslegitimam-se. Imediatamente. Sem ponderação.

E então ouvi o inevitável: que discursinho, Bruno, mas contra o crime organizado não pode ter moleza, aquela galera ali é parte desse jogo.

Discordo. Pra mim, “crime organizado” se constitui de sofisticados grupos multinacionais, com altíssimos lucros, abundantes em conchavos e conexões com os poderosos: na política, na polícia, no sistema financeiro (para lavar o dinheiro). A molecada que toca o varejo é bucha. Mesmo os “chefões” que ocasionalmente vão presos, são só um pouquinho menos bucha. Ninguém está falando que são pobrezinhos coitados, nem que sejam forçados pelas circunstâncias a aderir às facções, por descaminho. Não são. Apesar disso, é preciso admitir que tais adolescentes e jovens são totalmente acessórios e descartáveis, e não são eles que sustentam a economia das drogas ilícitas. Na realidade, essa gente é interceptada pela cadeia produtiva, administrada e comandada pelo verdadeiro “crime organizado”. Fossem eles organizados de verdade, não estariam sendo progressivamente dizimados pelas milícias, que tendem a monopolizar o mercado.

Pronto, a essa altura, o estabelecimento inteiro me considera um sem-noção irremediável. Mas alguém tenta esclarecer este louco da verdade: veja bem, agora é guerra, a bandidagem começou, pediu e recebeu, está queimando carros, metralhando postos de polícia, com tudo isso é natural que a sociedade queira uma resposta imediata e os próprios moradores das favelas apóiam as operações.

Primeiro, é tremenda ilusão acreditar em “respostas imediatas” para problemas complexos e profundos. Desconheço questão mais espinhosa, mais pontuada de armadilhas, do que a segurança pública no Rio de Janeiro. No fundo, essas “respostas imediatas” camuflam outra coisa, bem mais preocupante: estado de exceção. Isto significa: a desativação de garantias e direitos, a tolerância de excessos e abusos, de maneira que os atos ilegais do estado não sejam considerados delituosos, que cada agente se sinta livre para aplicar todos os meios disponíveis. É um cheque em branco às operações: fazer o que for preciso pra restabelecer a ordem.

Segundo, não tem guerra coisa alguma. A rigor, guerra implica declaração formal do Presidente da República e autorização do Congresso Nacional, e pressupõe dois lados perfeitamente delineados, com uniformes, bandeiras e tutti quanti. O que se tem hoje no Rio não é sequer “guerra civil”. Não existe exército separatista, nenhuma sedição nas forças armadas, nenhum grupo querendo depor os governantes e instalar um novo regime. A menos que se aceitem vagas classificações: “guerra contra o terror”, “guerra contra as drogas”, “guerra contra o crime” etc. Porém, tudo isso não é propriamente guerra; aliás, é qualquer coisa…

Terceiro, não faço apologia aos grupos de varejo de drogas, e muito menos coloco as minhas fichas “esquerdistas” nos traficantes, como se fossem uma forma de resistência, uma forma democrática ou progressista. Não e não. As facções ocupam territórios como se fossem feudos, subjugam os moradores, impõem a lei do medo, não vão além de um governo despótico bastante precário e descontrolado.

Meu ponto é que estão fazendo as perguntas errradas. Toda a questão está mal-colocada por causa do imediatismo, do preconceito, do maniqueísmo e da pulsão da morte que a grande imprensa promove — a televisão em especial. Essa percepção oblíqua é uma das principais causas da manutenção do estado das coisas.

Nesse momento, já sem qualquer chance de travar diálogo, sabendo que falaria doravante para as paredes, fui pra casa e passei a matutar sobre a questão das questões: então, o que fazer?

Primeiro, achar uma pergunta melhor. A pergunta melhor, acho eu, morador do Rio, deve orientar-se pelas causas materiais dessa mixórdia, em que poder do crime e crime do poder (a expressão é do sociólogo Giuseppe Cocco) estão do mesmo lado da equação e se somam, tendo como resultado o massacre sistemático — e amiúde anônimo — de jovens negros em comunidades pobres, nos morros e na periferia. Pode não haver o xis da questão, a resposta definitiva, mas alguns fatores merecem atenção.

É preciso analisar a economia por trás das ilegalidades. Como o dinheiro e o poder circulam ao redor do comércio de drogas ilícitas. Quem ganha? Quem é beneficiado politicamente? Quem trafica influência? Quem define o que é tolerado e o que não é?

Existe uma gestão do ilegal que produz lucro e sustenta campanhas eleitorais e confere respaldo político a pessoas no poder, no estado, na mídia. Legalizar, pra essa turma, significaria o fim de um banquete: fim do monopólio comercial, fim do controle sobre a cadeia produtiva, bem como maior fiscalização — logo, menos dinheiro e poder. Para o esquemão, é fundamental que as drogas ilícitas mantenham-se um caso de polícia, e de polícia com toda a sua carga de abuso e corrupção. Jamais de saúde pública.

Como efeito colateral, a “guerra ao tráfico” fragmenta ainda mais a cidade. Na cidade sitiada, multiplicam-se muros, grades, portões, câmeras, alarmes. As pessoas se retraem: vão de casa para o trabalho e deste para casa — quando muito freqüentam o shopping, a academia, o clube e outras ilhas de segurança e assepsia. O cidadão é vencido pelo indivíduo. Desmobiliza-se a metrópole como organismo vivo da democracia, nos seus fluxos horizontais de práticas e discursos, no seu amor comum.

Além disso, é preciso compreender a milícia não como alternativa menos imoral e menos bárbara do que as facções tradicionais. Com efeito, a milícia é uma evolução política e econômica, uma forma mais eficiente de gestão das ilegalidades, signo do limiar cada vez mais indistingüível entre estado e crime. A milícia está vencendo porque é uma aplicação eficiente do poder: mais rendimento, menos barulho. Como escreveu Luiz Eduardo Soares: “o modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico.” A carteira de negócios da milícia não se restringe ao comércio de drogas ilegais. Abrange toda a atividade econômica no seu território: o transporte coletivo, a TV a cabo, a venda de “proteção”, as “taxas” de construção, a renda dos camelôs etc. Menos do que salvação da lavoura, como raciocina parte da imprensa, trata-se de um refinamento e aprofundamento do poder do crime (e do crime do poder), em cima da mesma economia de ilegalidades.

Por isso tudo, não existe solução técnica. Não basta pôr tantos policiais na rua, ocupar tantos morros, aplicar maciçamente as forças armadas, tudo isso para prender X jovens-negros-pobres e executar Y jovens-negros-pobres. E não adianta devassar as instituições pra “arrumar a casa”. Como se pudesse desatar o nó górdio eliminando policiais “sujos” e políticos corruptos. Ora, não é funcionando de modo mais “limpo” ou eficiente que o sistema penal passará a defender a sociedade. No Brasil, não há carência, mas exagero de punição. O sistema é assim mesmo. Trata-se das raízes da história brasileira: o poder se constituiu assim, para funcionar desse jeito. A invocação de superioridade moral participa da farsa e serve para legitimar o crime do poder.

Mas, caramba, o que é o tal sistema, cara-pálida?

Nesta questão particular, é um tripé: 1) a base histórica de desigualdade e racismo que atravessa a sociedade toda, 2) o funcionamento desigual do sistema punitivo (polícia, justiça, prisão), como fiador dessa base, e 3) a criminalização de determinadas substâncias, como motor da economia de ilegalidades, e sua produção de discurso, poder e lucro.

Em resumo: o problema é falta de democracia. Daí a solução passar, necessariamente, por mais democracia. E isso se realiza com políticas concretas, a incidir sobre causas materiais, com dignóstico da situação real, evitando cair nos vários ardis acima expostos: o espetáculo da mídia, a análise maniqueísta, o discurso do medo e da exceção, a farsa do poder constituído.

Assim, à guisa de maior desenvolvimento, arrisco apresentar três caminhos para o debate e a formulação, que possam impactar, na sua estrutura mais íntima, os processos de violência urbana no Rio de Janeiro, quiçá nas metrópoles terceiromundistas em geral:

1) Políticas de desenvolvimento/urbanização de áreas pobres (ex.: PAC das comunidades), de geração e distribuição de renda e bens sociais (ex.: Bolsa Família, Projovem, Prouni), conjugadas intimamente com ações afirmativas substantivas (ex.: cotas raciais na educação, nos concursos públicos).

2) Democratização do sistema penal, nos seus três setores: quer a polícia (ex.: polícia comunitária, partindo do projeto das Unidades Policiais Pacificadoras – UPP, que pode e deve ser melhorado como instância articuladora e mediadora entre demandas da comunidade e poderes públicos), quer a justiça criminal (ex.: criminologia crítica, constitucionalização do direito penal, quadro de juízes e promotores mais social/racialmente plural, fortalecimento das defensorias públicas, acesso à justiça), quer o complexo prisional (ex.: despenalização de condutas não-violentas, penas alternativas, revolução das cadeias como espaços de ressocialização e não como “universidades do crime”).

3) Descriminalização de todas as drogas ilícitas, sem exceção, desvinculando o uso, o porte, a produção e a venda da atenção da polícia e da justiça criminal, convertendo em problema político de saúde pública, a ser estudado, controlado e gerido por órgãos especializados que já fiscalizam fármacos, com regulamentação lúcida e democraticamente debatida e aprovada.


Fonte: Amálgama

Perdeu, playboy. 140 caracteres de puro ódio e ignorância

por Lelê Teles – Bandidos tocavam fogo em veículos no morro e no asfalto no Rio de Janeiro. Uma pirotecnia de quem quer chamar atenção. Propaganda. Bandidos desesperados com a perda de territórios para as Unidades Pacificadoras (UPPs) tentam chantagear o estado com o terror.

Poderia ter funcionado. Todos nós sabemos que em São Paulo isso funcionou. Lá, motivados pela remoção de líderes do PCC para a Penitenciária de Segurança Máxima Vicente Venceslau, o comando organizou oito dias de terror e pânico, em 2006, usando a mesma tática: carros, caminhões e ônibus incendiados, postos policiais alvejados por metralhadoras e policias assassinados.

A Secretaria de (in)Segurança de São Paulo iniciou uma ofensiva, que culminou com quase 500 pessoas assassinadas, muitas sem passagem pela polícia, muitas com indício de execução. Mas os ataques do PCC se seguiam. O governo paulista, então, capitulou. E negociou com o crime o fim da revolta dos bandidos, como mostra de forma inequívoca o filme Salve Geral.

Neste final de semana, ainda motivados pelo filme do Padilha e acreditando na capa da revistaveja que diz que o Capitão Nascimento é um herói nacional, followers homicidas passaram a destilar o seu ódio na minha timeline: bala neles, tem que mandar bala e matar todos esses facínoras, por que o BOPE não atirou em todos enquanto estavam fugindo, tem que meter o pé na porta de morador que esconde bandido e mandar bala…

É uma barbaridade. Lembremos todos que no filme do Padilha, Capitão Nascimento e Matias colocam no saco e atiram sem piedade nos caras da favela. No entanto, se contentam em dar umas bolachas e cascudos nos garotos brancos do asfalto. Bala nem pensar. Os followers gostaram dessa seletividade. Eles gostam.

Sentados, tomando suco de laranja e vendo o noticiário na TV de plasma, brindando ao ver os blindados, os followers não se dignaram em se colocar na sala de uma casa na favela com 2.600 homens e mulheres das forças armadas nacional, o BOPE, e as polícias civil e militar e 600 bandidos armados até os dentes do lado de fora. “Manda bala, é tudo traficante. É guerra”.

Guerra não era, que guerra só é possível entre duas ou mais nações com forças armadas dos dois lados. Aqui o nosso inimigo era uns caras magrelos, sem camisa, sem dentes, sem escola, sem emprego, sem perspectiva, sem uma sólida estrutura familiar e que foram atraídos por traficantes para serem soldados viciados, andarem com armamento pesado e serem impiedosos, idolatrados e temidos. Como mostra Falcão, os Meninos do Tráfico.

O diabo é que os meus followers são o tipo de gente que se indignou com a Chacina dos Meninos da Candelária, e agora pedem a execução sumária dos bandidos; ou seja, deixa crescer que depois a gente mata. O Capitão Nascimento dizia, no filme do Padilha, que se sentia enxugando gelo toda vez que fazia uma operação assassina na favela. O BOPE era só uma máquina selvagem, estúpida e demofóbica. Haveria que civilizar-se. Finalmente a inteligência venceu o ódio.

A política inteligente de Cabral e Beltrame, republicana, democrática e respeitosa ao estado de direito está ocupando os morros, devolvendo dignidade para os moradores, negociando a rendição dos bandidos, apreendendo armas, drogas e produtos de furtos. E, sobretudo, está agindo no asfalto, prendendo advogado pilantra e familiares de traficantes coniventes. Bloqueando contas bancárias, bloqueando bens e rastreando a contabilidade do crime.

E os meus malvados e sanguinários followers ganharam de presente uma bandeira do Brasil hasteada sobre uma grande obra do PAC, que os mesmos jornais que eles estavam assistindo nunca haviam mostrado. Os noticiários mostraram também prédios de apartamentos na favela, novinhos e com gente dentro; mostraram a escola nova e com fachada linda com o nome do jornalista Tim Lopes. Viram, mesmo que de soslaio, que o Governo do Rio está interessado em dar cidadania para os favelados.

Para os que torciam por um derramamento de sangue, com milhares de pessoas pobres, pardas e pretas mortas pelas ruas, ficou a decepção.

Perdeu, playboy!


Fonte: Amálgama

Operação contra o tráfico no Rio: Quem tem razão?

Eu (Leandro Maia Gonçalves) não compartilho da mesma opinião do autor do artigo abaixo, mas como sou defensor de que se mostre ângulos diferentes de um mesmo fato, para que possamos tirar nossas próprias conclusões, sem que sejamos manipulados por uma única linha de raciocínio.

O teatro do governo do Rio e sua mídia


Por Marcelo Salles

“Dia histórico para o Rio de Janeiro”. “Dia D”. “Vitória do bem contra o mal”. Esses foram alguns chavões utilizados pelas corporações de mídia para descrever a incursão das “forças de segurança” ao Complexo do Alemão, neste domingo, como a complementar a imagem da bandeira do Brasil no alto de uma das estações do teleférico recém-construído na favela. É incrível como se assemelham a narrativa do governo estadual e o discurso adotado pelas Organizações Globo. Juntos comemoram vitória no Alemão, ao tempo que varrem pra debaixo do tapete o sangue derramado no meio da semana da passada. Acham que ninguém vai questionar?

De acordo com o Fantástico, da TV Globo, os 2.600 homens da polícia militar, polícia civil, polícia federal, exército e marinha apreenderam 40 toneladas de maconha e 50 fuzis. No entanto, na fotografia publicada no site do Globo aparecem apenas 3 fuzis. Os dados oficiais da operação não foram divulgados, e as primeiras informações davam conta de 15 prisões no sábado, antes, portanto, da invasão do conjunto de favelas.

A conta não fecha. No meio da semana passada foram divulgadas, repetidamente e com assombro, imagens de traficantes fugindo da Vila Cruzeiro para o Alemão. Falavam em duzentos homens fortemente armados. Dados do próprio governo dão conta de que no Alemão existiam pelo menos mais 450 traficantes. Para onde foram os 650? Estariam entocados em algum lugar da Serra da Misericórdia? Ou fugiram milagrosamente, já que todos os acessos estavam fechados? O número de fuzis apreendidos divulgado pelo Fantástico inclui os que foram encontrados na Vila Cruzeiro? Ou estão querendo nos fazer acreditar que os bandidos os deixaram para que fossem encontrados no Alemão? Onde foi que a TV Globo aprendeu a somar?

E, mais importante: onde estão os corpos dos cerca de 40 mortos nas operações realizadas na Vila Cruzeiro e no Jacarezinho, no meio da semana passada? E os laudos cadavéricos, que podem indicar se houve ou não execuções sumárias? Qual o nome dessas pessoas? Será possível que nenhuma mãe tenha chorado essas mortes? Sua dor não é notícia? Seria prudente que essas informações fossem divulgadas, inclusive para debelar qualquer dúvida com relação à legalidade da ação policial.

Sobre as drogas que foram apreendidas, o “comentarista de segurança” da Rede Globo frisou em todos os programas da emissora, inclusive no Faustão: os crimes vão diminuir; a paz voltará ao Rio de Janeiro. Duvido, por uma razão muito simples. Se a maior parte dos traficantes varejistas está solta, e perderam grande quantidade de uma mercadoria, a droga, o que será que eles vão fazer para recuperar o dinheiro? Fundar um banco? Não. Apostar na Bolsa de Valores? Não. O mais provável é que recorram a assaltos, seqüestros relâmpagos e outros crimes, muitas vezes tão sujos quanto as opções anteriores.

As “forças de segurança”

O temido Bope parece já não ser suficiente para satisfazer o fetiche da violência da burguesia. O baile macabro dos tanques de guerra em favelas do Rio é um terrível precedente para todos nós que lutamos por democracia e Direitos Humanos. Depois disso o que vem? Vale consultar os livros de Mike Davis, sobretudo o “Planeta Favela”. Eis um trecho da resenha, pela Boitempo Editorial:

“Cada aspecto dessa ‘nova cidade’ é analisado: informalidade, desemprego, criminalidade; o gangsterismo dos senhorios que lucram com a miséria; a incapacidade do Estado de oferecer infra-estrutura e casas populares, e em contrapartida sua atuação nas remoções de ‘revitalização’ que abrem caminho para a especulação imobiliária; as soluções ilusórias de ONGs e organismos multilaterais.

“Um ‘proletariado informal’, ainda não compreendido pelo marxismo clássico e tampouco pelo neoliberalismo. A materialização extrema desse conflito está no último capítulo do livro, que trata das análises do Pentágono sobre a guerra do ‘futuro’ nas megafavelas do Terceiro Mundo, e o presente do exército norte-americano tentando monitorar as vielas de Sadr City, a maior favela de Bagdá”.

No Haiti, onde lidera uma missão das Nações Unidas, há alguns o Brasil “treina” militares para usar em favelas aqui. Parece que a hora chegou. O país onde houve a primeira revolução dirigida por escravos foi usado para preparar a repressão militar em espaços habitados por descendentes de escravos. É o recrudescimento da tese do “inimigo interno”, doutrina remanescente da ditadura de 1964 que foi dissecada pela presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Cecília Coimbra, no livro “Operação Rio – o mito das classes perigosas”, onde analisa o uso das Forças Armadas para o policiamento da cidade durante a Eco-92.

Entre as dezenas de mortes na Vila Cruzeiro e no Jacarezinho, no meio da semana passada, até agora não consta que as “forças da ordem” tenham tido alguma baixa, felizmente. No entanto, este fato deveria ser mais do que suficiente para derrubar a ideia de “guerra”, o que pressupõe equivalência de forças e disputa pelo poder político – o que também está fora de cogitação, pois quem trafica drogas não quer chegar ao governo, quer apenas manter os lucros com esse negócio privado pra lá de capitalista.

Um fato, porém, deveria inverter a tendência encampada com entusiasmo pelas corporações de mídia, aquela que faz apresentadores de telejornal chegarem próximos ao orgasmo: vasculhar e destruir! As mais de trinta pessoas que morreram – incluindo uma adolescente de 14 anos e outras três pessoas que nada têm a ver com o negócio da droga – morreram durante operações das “forças de segurança”. Por esta razão, a Anistia Internacional divulgou nota pedindo que as autoridades brasileiras “ajam com força proporcional e dentro da lei”, e recorda a mega-operação realizada em 2007 na mesma favela do Alemão.

Breve histórico

A preocupação não é infundada. Em 2007, a mega-operação policial deixou mais de 40 mortos no Alemão, 19 num único dia, sendo que depois da ação não houve melhora na segurança pública da região. O detalhe perverso: uma perícia independente constatou que muitas dessas mortes foram execuções sumárias. Eu estive lá. Passei algumas semanas percorrendo quatro das treze favelas do Alemão, cheguei a dormir no Morro do Alemão, favela que dá nome a todo o conjunto, que se estende por cinco bairros da zona norte carioca. Tive a oportunidade de ouvir cerca de 100 pessoas, e a reportagem foi publicada em cinco páginas na edição de agosto de 2007 da revista Caros Amigos, então editada por Sérgio de Souza. Resumo da ópera: os traficantes varejistas são cruéis, sim, relatam os moradores, mas o medo maior é da polícia, que perpetrava uma série de violações aos direitos humanos. Uma informação importante: naquela ocasião, apenas uma semana depois da invasão policial o tráfico varejista já operava normalmente.

Aqui tem algumas fotos que fiz para além da reportagem.

E aqui uma matéria publicada no Fazendo Media, um contraponto à pesquisa Ibope divulgada à época, que “mostrava” apoio da “população” às mega-operações.

O papel das corporações de mídia

As corporações de mídia jogam um papel essencial em situações como essa. Podem ser importante instrumento de denúncia contra violações dos Direitos Humanos, da mesma forma que podem legitimar uma matança indiscriminada. A inclinação do noticiário dependerá sempre dos interesses da empresa que o comanda, apesar de todas se declararem imparciais e a serviço da sociedade. Assim, não importa que as “forças de segurança” contem com 2,6 mil homens, helicópteros, tanques de guerra e preparação profissional, enquanto, do outro lado, seriam 600 homens, de chinelo e bermuda. Para diluir a desigualdade, o que fazem os donos da mídia que “adoram matadores”, conforme definição do jurista Nilo Batista? Reproduzem “ad infinutum” as imagens da fuga cinematográfica de bandidos da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão.

E apresentadores de televisão perguntam, com sangue escorrendo pelos lábios: “por que a polícia não cercou os bandidos? Não sabiam que iriam fugir por ali?”.

Não há uma linha sequer criticando qualquer aspecto da operação patrocinada pelo governo. Seriam anjos enviados por Deus, incapazes de errar? Por que não se investigam as denúncias da Rede Contra a Violência, que em nota afirma que policiais invadiram e saquearam residências na Vila Cruzeiro? Parece que em se tratando de perseguir o crime em áreas pobres, o olhar crítico, fundamental à prática jornalística, dá lugar ao engajamento cego, típico dos vassalos da ditadura.

Relato crítico de uma moradora

Neste sábado, dia 27 de novembro de 2010, parte do Alemão ficou sem luz. A repórter da Globo tentou explicar: “por questão de segurança”. Milhares de pessoas tiveram a energia elétrica cortada em nome da perseguição de centenas. Quem me conta é a Renata, que mora na favela e vem denunciando uma série de arbitrariedades em seu Facebook. E se faltasse luz no Leblon, em quanto tempo voltaria? Mas as corporações de mídia não irão ouvir a Renata. Usarão todo o espaço com aqueles dispostos a corroborar a opinião que interessa às “forças da ordem”. Acho que nem na invasão do Iraque a mídia brasileira, pelo menos a televisiva, esteve tão “embeded”, embutida, afinada com as “forças da ordem”.

Por outro lado, chegam informações de que os bandidos estão expulsando moradores de suas casas e entrando à força. Que os policiais estão pedindo comida e água para os moradores, porque o governo não lhes fornece as necessidades básicas. Que até agora os moradores, no Alemão, estão sendo tratados com educação pelas “forças de segurança”, que só permitem que os moradores entrem e saiam da favela se apresentarem documento de identidade. Seria mais honesto se todos esses aspectos fossem mostrados, e não apenas este ou aquele.

Renata não poupa críticas à “imprensa sensacionalista, a Globo, que não mostra a nossa situação real”. Ela conta a história de um casebre que fica no caminho da Vila Cruzeiro para o Alemão, e que foi marcado a partir de imagens de um helicóptero da Globo como local de traficantes. Na verdade, a habitação pertence a Anderson e Patrícia, que são muito pobres, mas, apesar disso, coleguinhas, não são bandidos e lá vivem com os filhos. Resultado: os dois tiveram que fugir e estão abrigados numa igreja próxima, já que sua casa virou alvo.

Por fim, Renata desabafa: “Estou cansada. É sempre a gente que sofre”.

Na favela, vale lembrar, não se fabricam armas e nem drogas. Por que não perguntamos como elas chegam lá? Por que a inteligência da polícia não detectou os incêndios? A reconfiguração da cidade para a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos e os Jogos Militares estão por trás da barbárie? Por fim, e indo além: e as mal chamadas milícias? Já se converteram definitivamente em “milídias”, aguardando pacientemente o fim da “guerra” para ampliar o seu “mercado” no Rio de Janeiro?

O povo brasileiro não deve se deixar iludir pela operação casada entre governo do Rio e corporações de mídia. Não se pode vencer o tráfico de drogas nas favelas, nem com tanques de guerra, nem mesmo com bombas atômicas. Por um motivo muito simples: os donos do negócio não estão lá.

Marcelo Salles, jornalista, é colaborador do jornal Fazendo Media e da revista Caros Amigos, da qual foi correspondente em La Paz entre 2008 e 2009. No twitter, é @MarceloSallesJ


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Fonte: PlanetaOsasco

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Confira como foi feita a ocupação policial no Complexo do Alemão

A cronologia da tomada do Complexo do Alemão

Clique aqui e acompanhe os passos da operação.

Fonte: O Globo Online

A maior das facções do Rio é humilhada com ocupação do Complexo do Alemão

Bandidos exibem armas no alto do Alemão.Foto: Pablo Jacob / Agencia O Globo

RIO - A imagem do traficante Elizeu Felício de Souza, conhecido pelo apelido de "Zeu" , correu o mundo ontem e ilustrou de forma incontestável a humilhante situação na qual se encontram, agora, alguns dos criminosos mais perigosos do país. A queda da fortaleza do tráfico no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, foi emblematicamente simbolizada pela figura do criminoso: sujo, sem camisa e com a bermuda molhada pela própria urina "Zeu" bem que poderia dizer: "Perdi".

Um dos homens condenados pela morte do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, Zeu foi preso na localidade conhecida como Coqueiral, no interior do Complexo . Presos na mega-operação policial naquela localidade , "Zeu" e outras dezenas de membros da facção criminosa que dominava o comércio de drogas na região têm em comum, além do passado violento, um olhar desolado. Segundo especialistas em segurança, além da vergonha pela derrota frente às forças policiais essas imagens demonstram o desespero de quem perdeu o poder de articulação. Uma derrota marcada pela forma como fugiram, com medo de morrer.

- Os criminosos dessa facção perderam a grande praça de comércio que tinham na cidade. O Alemão era ainda o local de segurança deles quando ameaçados- analisou o ex-secretário Nacional de Segurança, José Vicente da Silva.

Nas imagens, um recado ao crime

Coronel da reserva da Polícia Militar, José Vicente lembra que a facção coordenava todas as atividades da Vila Cruzeiro e das 13 favelas do Complexo do Alemão. Agora, outros grupos criminosos receberam o recado de que não há como lutar contra essa nova realidade.

- Essa facção já estava com problemas de caixa. Perde agora toneladas de cocaína, armas, munição e soldados e ainda é envergonhada dessa forma. É um duro golpe para eles. A cobertura da mídia mostra que a sociedade e as instituições de segurança estão unidas contra a onda de violência que banhou o Rio nos últimos anos, graças à disputa de território entre as três facções. Agora, eles possivelmente vão diminuir esses confrontos. A guerra em nada ajuda o comércio de drogas.

Para o especialista em Segurança e coronel PM Milton Correa da Costa, graças às imagens transmitidas pelos veículos de comunicação, a facção pode estar com os dias contados no estado do Rio.

- A partir de agora a facção está esfacelada, sem comando; mais do que isso, ela está enfraquecida moralmente, além do fator econômico. As imagens mostram derrotados. Se as forças de Segurança permanecerem obstinadas, há a possibilidade de um esfacelamento total dessa facção, já que esse grupo terá perdido um terreno que jamais será recuperado.

Costa acredita ainda que o episódio que culminou com a tomada do Alemão representa o maior tiro no poder paralelo na história do Rio.

- Até no âmbito judiciário não há precedentes. O cordão umbilical das lideranças com os elementos de execução do narcoterrorismo foi cortado- celebra o coronel da PM.

A antropóloga Alba Zaluar afirma que as perdas para a facção já vinham sendo significativas, principalmente na Zona Oeste da cidade, graças às milícias. Agora, esse pode ser um golpe derradeiro.

- A fisionomia deles retrata homens derrotados, humilhados, perdedores. É toda a expressão corporal de quem perdeu tudo. Esses rituais de humilhação estão sendo vistos no mundo inteiro e a mensagem que passam às outras quadrilhas é de alerta: não brinquem por que nós somos hoje o que vocês serão amanhã- analisa Zaluar.

Já o sociólogo Michel Misse é mais contido em sua análise das operações no Alemão:

- Nós já sabíamos que eles eram meninos com armas nas mãos. Quanto ao reflexo dessa investida do poder constituído, é cedo para afirmar.

Organização nascida do convívio com presos políticos

O Comando Vermelho (CV), uma das organizações criminosas mais temidas do Brasil, tem sua origem na união de presos comuns e presos políticos que formavam a Falange Vermelha. Esse contato ocorreu inicialmente em 1979, quando ambos os grupos estavam encarcerados no presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande. O grupo recém-formado logo rivalizou com outra facção mais violenta, a Falange Jacaré, acusada de estuprar, roubar e intimidar presos.

Na década de 1980, já organizada como facção criminosa, a Falange Vermelha foi batizada de Comando Vermelho. Os primeiros presos foragidos da Ilha Grande começaram a pôr em prática todos os ensinamentos que haviam adquirido ao longo dos anos de convivência com os presos políticos, organizando e praticando assaltos a instituições bancárias, empresas e joalherias. Durante toda a década de 1990, o Comando Vermelho foi uma das organizações criminosas mais poderosas do Rio de Janeiro, mas, atualmente, a maioria de seus líderes está presa ou morta, com a cúpula da organização desorganizada.

O Comando Vermelho ainda controla partes da cidade e ainda é comum encontrar ruas pichadas com as letras "CV" em muitas favelas. Os principais grupos rivais do Comando Vermelho são o Terceiro Comando (TC) e os Amigos dos Amigos (ADA). Entre os integrantes da facção que se tornaram notórios estão Fernandinho Beira-Mar, Marcinho VP e Elias Maluco.

Uma das primeiras medidas do Comando Vermelho foi a instituição do "caixa comum" da organização, alimentado pelos proventos arrecadados pelas atividades criminosas daqueles que estavam em liberdade. O dinheiro arrecadado dessa forma serviria não só para financiar novas tentativas de fuga dos membros presos da organização, mas igualmente para amenizar as duras condições de vida nos cárceres, reforçando a autoridade e o respeito do Comando Vermelho entre os detentos.

Fonte: O Globo Online

Tráfico de drogas: De quem é a culpa?

Acho que a responsabilidade é de todos, seja por usar ou vender drogas, seja o poder público pela ineficiência de décadas, seja pelas pessoas que são coniventes com o crime, seja pelos corruptos e corruptores, seja pela apologia musical que se faz do tráfico, em letras de funk, por exemplo, tanto para quem cria a letra ou canta, quanto para quem ouve, promove e dissemina essa cultura dos fora-da-lei. Cada um tem seu papel no quadro atual, portanto cada um também deve começar a ter uma mudança de pensamento e de atitude em favor do bem, da lei, da ordem, da vida e da paz.

Lєαη∂яσ Mαια Gσηçαℓνєѕ

Lula diz que operação no Rio é um sucesso, mas que trabalho apenas começou

Presidente Lula (arquivo)

Presidente Lula pediu tranquilidade à população do Rio de Janeiro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a operação contra o narcotráfico no Rio de Janeiro como "um sucesso", mas disse que o trabalho ainda não terminou, "apenas começou".

"Nós não sabemos ainda se todos os bandidos fugiram, se tem muitos lá dentro, se estão escondidos. De qualquer forma, nós demos o primeiro passo. Entramos dentro do Complexo do Alemão", disse Lula nesta segunda-feira durante seu programa semanal de rádio Café com o Presidente.

Lula também prometeu visitar o conjunto de favelas e parabenizou o governador Sérgio Cabral.

"Eu quero reiterar hoje o que eu disse na sexta-feira: o que o Rio de Janeiro precisar para que a gente acabe com o narcotráfico, o governo federal está disposto a colaborar", disse o presidente.

O presidente Lula enviou uma mensagem de "otimismo e esperança" para as comunidades do Rio e pediu tranquilidade, dizendo que "nós venceremos essa guerra".

"Fica demonstrado que, com a união entre governo federal, governo estadual e os órgãos de inteligência das polícias, as coisas funcionam. Quando ficamos disputando entre nós quem é mais bonito, quem é melhor, o povo paga o prejuízo."


Fonte: BBC Brasil

Não haverá vencedores (?)

Folha de S. Paulo, Opinião, 28/11/2010

TENDÊNCIAS/DEBATES

Não haverá vencedores
MARCELO FREIXO

Pode parecer repetitivo, mas é isso: uma solução para a segurança pública do Rio terá de passar pela garantia dos direitos dos cidadãos da favela

Dezenas de jovens pobres, negros, armados de fuzis, marcham em fuga, pelo meio do mato. Não se trata de uma marcha revolucionária, como a cena poderia sugerir em outro tempo e lugar.
Eles estão com armas nas mãos e as cabeças vazias. Não defendem ideologia. Não disputam o Estado. Não há sequer expectativa de vida. Só conhecem a barbárie. A maioria não concluiu o ensino fundamental e sabe que vai morrer ou ser presa.
As imagens aéreas na TV, em tempo real, são terríveis: exibem pessoas que tanto podem matar como se tornar cadáveres a qualquer hora. A cena ocorre após a chegada das forças policiais do Estado à Vila Cruzeiro e ao Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro.
O ideal seria uma rendição, mas isso é difícil de acontecer. O risco de um banho de sangue, sim, é real, porque prevalece na segurança pública a lógica da guerra. O Estado cumpre, assim, o seu papel tradicional. Mas, ao final, não costuma haver vencedores.
Esse modelo de enfrentamento não parece eficaz. Prova disso é que, não faz tanto tempo assim, nesta mesma gestão do governo estadual, em 2007, no próprio Complexo do Alemão, a polícia entrou e matou 19. E eis que, agora, a polícia vê a necessidade de entrar na mesma favela de novo.
Tem sido assim no Brasil há tempos. Essa lógica da guerra prevalece no Brasil desde Canudos. E nunca proporcionou segurança de fato. Novas crises virão. E novas mortes. Até quando? Não vai ser um Dia D como esse agora anunciado que vai garantir a paz. Essa analogia à data histórica da 2ª Guerra Mundial não passa de fraude midiática.
Essa crise se explica, em parte, por uma concepção do papel da polícia que envolve o confronto armado com os bandos do varejo das drogas. Isso nunca vai acabar com o tráfico. Este existe em todo lugar, no mundo inteiro. E quem leva drogas e armas às favelas?
É preciso patrulhar a baía de Guanabara, portos, fronteiras, aeroportos clandestinos. O lucrativo negócio das armas e drogas é máfia internacional. Ingenuidade acreditar que confrontos armados nas favelas podem acabar com o crime organizado. Ter a polícia que mais mata e que mais morre no mundo não resolve.
Falta vontade política para valorizar e preparar os policiais para enfrentar o crime onde o crime se organiza -onde há poder e dinheiro. E, na origem da crise, há ainda a desigualdade. É a miséria que se apresenta como pano de fundo no zoom das câmeras de TV. Mas são os homens armados em fuga e o aparato bélico do Estado os protagonistas do impressionante espetáculo, em narrativa estruturada pelo viés maniqueísta da eterna "guerra" entre o bem e o mal.
Como o "inimigo" mora na favela, são seus moradores que sofrem os efeitos colaterais da "guerra", enquanto a crise parece não afetar tanto assim a vida na zona sul, onde a ação da polícia se traduziu no aumento do policiamento preventivo. A violência é desigual.
É preciso construir mais do que só a solução tópica de uma crise episódica. Nem nas UPPs se providenciou ainda algo além da ação policial. Falta saúde, creche, escola, assistência social, lazer.
O poder público não recolhe o lixo nas áreas em que a polícia é instrumento de apartheid. Pode parecer repetitivo, mas é isso: uma solução para a segurança pública terá de passar pela garantia dos direitos básicos dos cidadãos da favela.
Da população das favelas, 99% são pessoas honestas que saem todo dia para trabalhar na fábrica, na rua, na nossa casa, para produzir trabalho, arte e vida. E essa gente -com as suas comunidades tornadas em praças de "guerra"- não consegue exercer sequer o direito de dormir em paz.
Quem dera houvesse, como nas favelas, só 1% de criminosos nos parlamentos e no Judiciário...
MARCELO FREIXO, professor de história, deputado estadual (PSOL-RJ), é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

***

Não haverá vencedores?

Na minha ignorante e leiga opinião, o momento é outro, a motivação é outra, a estratégia é outra, o objetivo é outro, e desta vez não é apenas uma instituição policial, mas uma união de forças, que de forma inédita conseguem juntar as polícias, as forças armadas, defesa civil, prefeitura, e os governos do estado e federal, e que ainda contam com o apoio de maior parte da sociedade civil, das pessoas da comunidade, que em situações anteriores não percebiam que algo realmente parecia que iria mudar.
Mas, às vezes, para se curar um câncer é necessário que se retire parte do tecido ou do corpo que está comprometido com a doença.
Bom, talvez seja apenas otimismo demais da minha parte, ou então é porque eu acredito em algo maior, algo inexplicável e pessoal, é como se dessa vez eu sentisse que o desfecho será outro, pois todas as coisas contribuem para o bem daqueles que confiam em Deus, que para mim já é motivo suficiente para crer que o impossível não existe, pois, o que é impossível é deixar de acreditar na paz.

Leandro Maia Gonçalves

domingo, 28 de novembro de 2010

A ocupação das Favelas do Alemão

Acompanhe aqui o passo-a-passo da operação que pretende retomar dos traficantes o Complexo do Alemão, no Rio, devolvendo a liberdade e a paz dos moradores da comunidade, restabelecendo a ordem e a segurança na região.
A mega-operação policial é a maior já realizada, e conta com o apoio das Forças Armadas (Exército e Marinha), além das polícias Militar, Civil, Federal e Rodoviária Federal, com auxílio da Prefeitura do Rio, entre outros órgãos e setores da sociedade civil, assim como a população em geral, que colabora com informações e incentivo, demonstrando que sentem uma real possibilidade de sucesso nessa iniciativa inédita e histórica, na tentativa de livrar as comunidades do domínio do crime organizado.

(Lєαη∂яσ Mαια Gσηçαℓνєѕ)

Fique por dentro através do portal de notícias  G1

Vitória arrasadora do Rio no Alemão cria constrangimento

Vitória arrasadora do Rio no Alemão cria constrangimento | Conversa Afiada

Polícia invade Complexo do Alemão

Polícia invade Complexo do Alemão - O Globo Online

RJ desrespeita recomendação da ONU sobre efetivo nas ruas

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Guerras, traições e mortes marcam história do Complexo do Alemão

Guerras, traições e mortes marcam história do Complexo do Alemão

Analistas aprovam tática de cerco ao Complexo do Alemão com ocupação do alto da Serra da Misericórdia

RIO - A ocupação do alto da Serra da Misericórdia por militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi essencial para a estratégia de cerco dos traficantes no Complexo do Alemão, segundo Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Bope. Para ele, agora, o próximo passo é a invasão mesmo que haja uma rendição em massa.
- A estratégia de tomar o Complexo por camadas é acertada. A polícia tem uma vantagem tática muito grande que é dominar o ponto mais alto da serra. Pode posicionar atiradores no alto da mata, infiltrando no Alemão dezenas de equipes por várias localidades distintas, causando uma dificuldade para os traficantes de evitar a invasão - explica Pimentel. - O próximo passo certamente é a invasão, não há como a polícia não entrar. Mesmo que ocorra uma rendição em massa, é preciso invadir e vasculhar se há outros criminosos, beco por beco, laje por laje. 


Segundo ele, a estratégia de cerco por duas frentes (pelo alto e por baixo) chama-se "martelo e bigorna" e é historicamente adotada por todos exércitos. Ele ressalta que a tática é desgastante para os traficantes, mas também para policiais e moradores.
- Para entrar na Vila Cruzeiro, a polícia invadiu por uma única frente, com utilização dos blindados por baixo, enfrentando muita resistência. Agora, eles estão encurralados, cansados e sob o estresse de uma invasão iminente. Não têm para onde fugir. O fim de semana é o momento ideal para invadir, pois há menos circulação de moradores - diz Pimentel.
Analista compara ação no Haiti
Professor de Relações Internacionais do curso de Defesa e Gestão Estratégica Internacional da UFRJ, Leonardo Valente faz um paralelo entre a estratégia adotada no Complexo do Alemão com outros momentos históricos como a tomada das Colinas de Golã pelo Exército de Israel, em 1967, e os conflitos no Afeganistão e no Haiti, mais recentemente.
- A analogia com Golã é válida, pois, se você toma a base e o alto, isola operacionalmente o adversário, impedindo qualquer movimentação do inimigo. No Afeganistão, também é comum as tropas aliadas tentarem isolar os revoltosos na montanha - compara Valente. - Já no Haiti, as tropas brasileiras vivenciaram condições muito parecidas com as das favelas cariocas: vielas estreitas com casas e alta densidade populacional.
Valente concorda que essa estratégia não pode se estender por muito tempo:
- A polícia está debilitando e encurralando os traficantes. Mas esse isolamento não pode durar muito pois tem um custo, que é o de também isolar parte da sociedade civil.
Francisco Carlos Teixeira, professor titular de História das Relações Internacionais da UFRJ, diz que o paralelo mais próximo que se pode fazer é com a batalha de Monte Castelo, na Itália, na Segunda Guerra.
- Mas lá não havia residências em volta. O que estamos vivendo é uma guerra urbana, a mais difícil das guerras modernas. Quem desenvolveu os princípios dessa tática foi Michael Collins, teórico do IRA, que dizia que a melhor coisa era um pelotão do exército entrando em vielas, pois é obrigado os a se expor com pouquíssima defesa - explica Teixeira.
De acordo com o professor, a estratégia de isolamento e prazo de rendição impostos pela polícia foram corretos, mas ele acredita que a invasão é inevitável. 


sábado, 27 de novembro de 2010

José Júnior, do AfroReggae, anuncia que traficantes já começaram a se render no Complexo do Alemão


RIO - O coordenador do AfroReggae, José Junior, anunciou por volta das 15h50m, pelo Twitter, que começam a acontecer as primeiras rendições de traficantes no Complexo do Alemão. No início da tarde, o comandante da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, deu o ultimato aos traficantes do Complexo do Alemão para que se entreguem e baixem as armas. O relações-públicas da Polícia Militar, coronel Lima Castro, informou em entrevista ao RJTV neste sábado que a PM criou uma estrutura na Rua Joaquim Queiroz, esquina com a Estrada do Itararé, no Complexo do Alemão, para que os traficantes se entreguem.

(Veja mais fotos da movimentação no Alemão neste sábado)


- Já existe um esquema para que essas pessoas se entreguem. É uma oportunidade que a gente está dando - disse Lima Castro. Não vamos recuar da decisão de pacificar o Rio. - Estamos chegando aos momentos finais para alcançar os traficantes que estão no Alemão - acrescentou.
De acordo com ele, a rendição será feita da maneira como foi determinada pelo comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte. Em caso de rendição, os traficantes chegarão com os fuzis sobre a cabeça, entregarão as armas e serão revistados. A Rua Joaquim Queiroz fica próximo à Estrada do Itararé.
Por volta do meio-dia deste sábado, o coordenador da ONG AfroReggae, José Júnior, chegou ao Complexo do Alemão com mais cinco pessoas, para conversar com traficantes. Momentos após Júnior subir o Alemão pela Rua Joaquim Queiroz, sem o acompanhamento de policiais, traficantes efetuaram vários disparos do alto do morro. Houve correria e pessoas que passavam pela Avenida Itararé procuraram abrigo.
De acordo com o comandante da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, a polícia não voltará atrás na operação e tem equipamentos suficientes para entrar no Complexo do Alemão para tomar o território. Mário Sérgio alertou os moradores da área para que não saiam de casa e procurem se abrigar no momento em que a polícia entrar na comunidade.

- A população de bem, nós queremos protegê-los, sem causar danos. Pedimos para a população se manter abrigada e não sair nas ruas. Quem transitar nas ruas e vielas vai ficar sob o risco de fogo - disse o comandante.
Após o pedido do comandante, cerca de 50 famílias deixaram o morro. São famílias inteiras, que levaram bolsas, travesseiros, ventiladores e até cachorro. Sem se identificar, eles dizem que estão saindo do morro por causa da guerra.
No meio da tarde, a Polícia Civil prendeu Edson Souza Barreto, conhecido como Piloto, segurança do traficante Fabiano Atanázio da Silva, o FB, um dos chefes do Complexo do Alemão, em Ramos. No momento da prisão, o traficante segurava uma bandeira com a palavra Paz escrita. Desde segunda-feira, 74 pessoas foram presas, 123 detidas e 35 mortas em todo o Estado do Rio. Foram apreendidos 46 revólveres e 11 fuzis.
Mulher presa com 30 mil dólares na mochila
Uma mulher ainda não identificada foi presa pelos militares do Exército - que revistam todos os pedestres que deixam o Complexo do Alemão - com cerca de US$ 30 mil na mochila. O dinheiro e a mulher foram entregues à Polícia Militar e encaminhados à delegacia. Os militares também revistam carros e até crianças. No momento, não há confrontos na região. O comércio na Penha está aberto, e o clima é de aparente tranquilidade. No início da manhã, traficantes trocaram tiros com militares. Segundo imagens divulgadas pela TV Globo, o tiroteio ocorreu na Avenida Itararé, em Ramos.

No fim da madrugada, dois homens e um menor ligados ao tráfico foram presos ao tentar deixar o Complexo do Alemão. Ricardo Severo, de 31 anos, o Faustão, e Tássio Fernandes Faustinho, o Branquinho, de 26 anos, foram detidos por volta das 4h na Rua Canitá. Segundo a Polícia, eles desobedeceram a ordem de parar num bloqueio do Exército e da Polícia Militar. Houve confronto. Branquinho foi baleado na coxa e Faustão, na barriga. Os dois foram atendidos no Hospital Getúlio Vargas. A Polícia informou que Branquinho era o contador do tráfico, o segundo homem na escala hierárquica do bando. Já Faustão seria o braço direito Fabiano Atanásio, o FB.
Tássio é suspeito de ter participado da tentativa de invasão ao Morro dos Macacos, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, em outubro do ano passado. A ação terminou com a queda de um helicóptero da PM e provocou a morte de três PMs.
Desde sexta-feira, 800 homens do Exército reforçam o patrulhamento na área. Após a ocupação da Vila Cruzeiro pela Polícia Militar, na quinta-feira, mais de cem criminosos fugiram para o Complexo do Alemão.


Pelo menos três militares e seis civis ficaram feridos, na sexta-feira, na região do Alemão. Entre as vítimas, havia uma criança de dois anos, atingida por um tiro de fuzil no braço esquerdo, dentro de casa. Ela foi atendida no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, e liberada. O fotógrafo Paulo Whitaker, da agência de notícias Reuters, também foi baleado no ombro.
O traficante apontado como um dos chefes do tráfico de drogas no Alemão morreu. Outras duas pessoas também morreram durante os confrontos na região, segundo a Polícia Civil. Em um balanço da Polícia Militar, já são 35 os mortos nos confrontos entre policiais e traficantes na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão desde segunda até esta sexta-feira.

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Moradora do Rio agradece a 'heróis que vieram nos libertar'

26 de novembro - Soldado monitora movimentação nas ruas da Vila Cruzeiro a bordo de blindado. Foto: AFP

Bilhete entregue por moradora exalta presença das Forças Armadas
Foto: AFP

Uma moradora da Vila Cruzeiro, na zona norte do Rio de Janeiro, entregou neste sábado uma caixa de fósforo com um bilhete a uma repórter da TV Globo. Na carta, assinada pela "comunidade Vila Cruzeiro", a mulher agradece aos responsáveis pela ocupação da região. "Aos governantes e toda força militar, nosso guerreiros, nossos heróis que vieram nos libertar, obrigada", diz o texto. As informações são do RJTV.

Em outro trecho, a mulher, que não se identificou, relembrou os versos de um samba da escola Imperatriz Leopoldinense: "Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós". Ela ainda faz um apelo às forças de segurança: "O Rio precisa de vocês, o Rio precisa de paz". Ela lembra ainda que este sábado é dia de Nossa Senhora das Graças e se refere ao Brasil como uma "nação abençoada por Deus". Desde o início dos ataques, no último domingo, pelo menos 38 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro.

Violência

Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis abordaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha, na altura da rodovia Washington Luis. Eles assaltaram os donos dos veículos e incendiaram dois destes carros, abandonando o terceiro. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer) que andava em velocidade reduzida devido a uma pane mecânica. A quadrilha chegou a arremessar uma granada contra o utilitário Doblò. O ocupante do veículo, o sargento da Aeronáutica Renato Fernandes da Silva, conseguiu escapar ileso. A partir de então, os ataques se multiplicaram.

Na segunda-feira, cartas divulgadas pela imprensa levantaram a hipótese de que o ataque teria sido orquestrado por líderes de facções criminosas que estão no presídio federal de Catanduvas, no Paraná. O governo do Rio afirmou que há informações dos serviços de inteligência que levam a crer no plano de ataque, mas que não há nada confirmado. Na terça, a polícia anunciou que todo o efetivo foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Foram registrados 12 presos, três detidos e três mortos.

Na quarta-feira, com o policiamento reforçado e as operações nas favelas, 15 pessoas morreram em confronto com os agentes de segurança, 31 foram presas e dois policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) se feriram, no dia mais violento até então. Entre as vítimas dos confrontos, está uma adolescente de 14 anos, que morreu após ser baleada nas costas. Além disso, 15 carros, duas vans, sete ônibus e um caminhão foram queimados no Estado.

Ainda na quarta-feira, o governo do Estado transferiu oito presidiários do Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio, para o Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná. Eles são acusados de liderar a onda de ataques. Outra medida para tentar conter a violência foi anunciada pelo Ministério da Defesa: o Rio terá o apoio logístico da Marinha para reforçar as ações de combate aos criminosos. Até quarta-feira, 23 pessoas foram mortas, 159 foram presas ou detidas e 37 veículos foram incendiados no Estado

Na quinta-feira, a polícia confirmou que nove pessoas morreram em confronto na favela de Jacaré, zona norte do Rio. Durante o dia, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) entraram na vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, na maior operação desde o começo dos atentados. Os agentes contaram com o apoio de blindados fornecidos pela Marinha. Quinze pessoas foram presas ao longo do dia e 35 veículos, incendiados.

Durante a noite, 13 presidiários que estavam na Penitenciária de Segurança Máxima de Catanduvas, no Paraná, foram transferidos para o Presídio Federal de Porto Velho, em Rondônia. Entre eles, Marcinho VP e Elias Maluco, considerados, pelo setor de inteligência da Secretaria Estadual de Segurança, diretamente ligados aos atos de violência ocorridos nos últimos dias. Também à noite, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, assinou autorização para que 800 homens do Exército sejam enviados para garantir a proteção das áreas ocupadas pelas polícias. Além disso, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, anunciou que a Polícia Federal vai se integrar às operações.

Na sexta-feira, a força-tarefa que combate a onda de ataques ganhou o reforço de 1,1 mil homens da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército e da Polícia Federal, que auxiliaram no confronto com traficantes no Complexo do Alemão e na vila Cruzeiro. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a polícia permanecerá nas favelas por tempo indeterminado. A troca de tiros entre policias e bandidos no Complexo do Alemão matou o traficante Thiago Ferreira Farias, conhecido como Thiaguinho G3. Uma mulher de 61 anos foi atingida pelo tiroteio na favela e resgatada por um carro blindado da polícia. Foram registrados quatro mortos e dois feridos ao longo do dia. Um fotógrafo da agência Reuters foi baleado no ombro e hospitalizado.

Na parte da noite, o Departamento de Segurança Nacional (Depen) confirmou a transferência de 10 apenados do Rio de Janeiro para o presídio federal de Catanduvas (PR). Também à noite, a Justiça decretou a prisão de três advogados do traficante Marcinho VP e a Polícia Civil anunciou a prisão de sua mulher por lavagem de dinheiro.


Fonte: Terra

Veja a cobertura completa da onda de crimes no Rio

Uma onda de ataques violentos tomou conta do Rio de Janeiro nesta semana. A sensação de insegurança cresce entre a população desde o início da tarde do último domingo (21), quando homens armados com fuzis atearam fogo em dois carros na Linha Vermelha, sentido Centro, na altura da rodovia Washington Luís.

Dezenas de ônibus e carros foram queimadas e cabines policiais foram alvos de tiros, o que provocou transtornos no tráfego da cidade e interrupção de aulas em diversas escolas cariocas. Os ataques e arrastões, que se espalharam por cidades da Baixada Fluminense e atingiram também Niterói, seriam uma retaliação dos bandidos à criação das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora), que levaram o policiamento a várias comunidades cariocas antes dominadas pelo tráfico de drogas.


Veja a cobertura completa da onda de crimes no Rio

Fonte: R7

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Fuga em massa de criminosos na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro

RIO - A ocupação policial da favela Vila Cruzeiro, na Penha, Zona Norte do Rio, representa um importante passo na ofensiva contra as ações de criminosos cometidas nos últimos dias, afirmou o secretário de Segurança Pública do Estado, José Mariano Beltrame .
- Se tirou dessas pessoas o que nunca foi tirado, que é o seu território. Se tirou dessas pessoas o que eles chamavam e consideravam porto seguro; faziam suas barbaridades e corriaem covardemente para o seu reduto protegido por armas de guerra - afirmou o secretário.
Mais cedo, o subchefe operacional da Polícia Civil, delegado Rodrigo Oliveira, disse que "a comunidade hoje pertence ao Estado". Segundo o delegado, policiais civis e militares ocuparão o morro por tempo indeterminado. Ele disse ainda que diversos bandidos fugiram para o Complexo do Alemão.
- Existe uma rota de fuga que segue pelo Complexo do Alemão dentro da favela Vila Cruzeiro e temos dificuldade de alcançar. Mas a gente entra hoje na Vila Cruzeiro e não sai mais. Diversos objetivos serão checados nos próximos dias. A resposta que a sociedade precisa é essa.
Uma verdadeira operação de guerra ocorreu na região da Penha na tarde desta quinta-feira. Acuados pela ofensiva policial, dezenas de bandidos fugiram da Vila Cruzeiro em direção ao Complexo do Alemão. Por volta de 17h, a polícia informou que ocupou o alto da Vila Cruzeiro - onde não havia chegado nos últimos anos. Os policiais também já chegaram ao Complexo do Alemão. De acordo com informações da polícia, as operações continuarão durante a noite com helicópteros utilizando um sistema de visão noturna com infravermelho.
O grupo em fuga seguia em direção ao local conhecido como "Inferno verde", nas imediações da pedreira do Alemão, onde três funcionários do PAC foram assassinados este ano. Imagens da TV Globo mostraram que ainda há muitos criminosos na Vila Cruzeiro, aparentemente preparando ações contra a ofensiva policial. As imagens mostram ainda o momento em que alguns deles foram baleados.
No final da tarde, policiais do 16º BPM (Olaria) encontraram várias fardas oficiais do Bope, além de granadas e partes de fuzil numa casa na comunidade.
A ofensiva conta com cento e cinquenta policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e 30 fuzileiros navais com rostos pintados, na Penha, no início da tarde desta quinta-feira.
Blindados da Marinha e da PM sobem a Vila Cruzeiro
Quinze blindados da Marinha e da Polícia Militar estão sendo usados para transporte de pessoal. O modelo de um dos veículos envolvidos, o M113, da Marinha, foi usado na guerra do Iraque.
Blindados da Polícia Militar, apoiados por dois carros Lagarta Anfíbios - da Marinha -, reforçaram a grande ofensiva contra traficantes da Vila Cruzeiro. Eles entraram pela rua Vacaria, um dos principais acessos da comunidade. Os militares da Marinha atiraram duas vezes contra bandidos no alto do morro, que haviam disparado contra eles.
Cerca de cem policiais civis também subiram a favela em veículos blindados. Há agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e de delegacias especializadas. Helicópteros também participam da operação.
Na tarde desta quinta-feira, um policial militar, ainda não identificado, chegou ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha, baleado no braço esquerdo. Além dele, deram entrada na unidade outras seis pessoas. Osmar Sabino Julião, de 21 anos, foi levado para o hospital por policiais quando descia de moto a Vila Cruzeiro, já baleado no glúteo. Já o servente José Pereira, de 32 anos, ferido quando chegava ao Morro da Caixa D´Água, também na Penha, já foi atendido e liberado.
Ainda estão sendo atendidos Bruno da Silva, de 24 anos, atingido no braço esquerdo, e José Dantas Souza, de 43 anos, ferido por estilhaços no antebraço esquerdo. Marllon José Barbosa, de 16 anos, que levou um tiro no peito e no braço direito, será operado agora à noite. Já Ronald Henrique Nicanor, de 23 anos, ferido no braço direito, está sendo avaliado pela equipe médica.
Em entrevista à TV Globo, o relações públicas da Polícia Militar, coronel Lima Castro, disse que a polícia enviou equipes para o Complexo do Alemão para tentar capturar esses criminosos:
- A operação não cessa aqui. Vamos buscá-los aonde eles estiverem.
A operação tem apoio de fuzileiros navais porque são eles que estão conduzindo os veículos, onde seguem os agentes do Bope. Esse tipo de veículo nunca foi usado na cidade do Rio. Segundo a nota divulgada pela Marinha do Brasil, os efetivos são limitados às tripulações que conduzirão as viaturas. "Foram disponibilizados, inicialmente, para prestar apoio logístico de transporte ao Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da PMERJ, os seguintes meios do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil: viaturas blindadas sobre lagartas M-113, viaturas blindadas sobre rodas Piranha e carros Lagarta Anfíbios (CLAnf)".
Por volta das 13h45m, mais um comboio entrou na operação. Três veículos, sendo duas picapes e um caminhão para transporte de tropas, saíram do 16º BPM (Olaria) para mais uma investida na localidade conhecida como Vacaria, um dos acessos à Vila Cruzeiro. Minutos depois, traficantes de bicicleta jogaram uma bomba numa rua de acesso ao Largo da Penha.
Chefe do tráfico da Vila Cruzeiro teria sido baleado
O tráfico da Vila Cruzeiro é chefiado por Luciano Martiniano da Silva, o Pezão. Segundo os policiais, o traficante Fabiano Atanásio da Silva, o FB, teria sido baleado na operação de quarta-feira do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Ele teria recebido dois tiros e estaria ferido.
Quando os primeiros policiais chegavam à comunidade, um caminhão de uma loja de eletrodomésticos roubado recentemente foi incendiado para dificultar o acesso dos policiais.
De acordo com o comandante do Estado Maior da PM, coronel Álvaro Garcia, essa operação enérgica está sendo necessária porque os bandidos que estão oferecendo ataque à sociedade se escondem neste local. Ele disse que a polícia não tem data para sair da Vila Cruzeiro permanecer no morro por tempo indeterminado, para mais tarde implantar uma UPP no local.
O coronel descartou o uso das metralhadoras .50, que têm capacidade de abater helicópteros e aviões. Esse armamento faz parte dos blindados M113 cedidos pelos fuzileiros navais:
- Vamos para a guerra sim, mas neste nível não.